Na última terça-feira (27), uma cena lamentável tomou conta da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi hostilizada, interrompida e, por fim, desrespeitada de forma contundente por parlamentares — a maioria alinhada ao bolsonarismo. O episódio é grave, não apenas pelo teor da discussão, mas pelo símbolo do que representa: um ataque misógino e antidemocrático à presença feminina nos espaços de poder.
Durante a audiência pública que discutia a pavimentação de uma estrada na Amazônia, a ministra foi alvo de ataques pessoais, teve seu microfone cortado repetidamente e foi silenciada de maneira deliberada. O estopim se deu quando ela ousou — sim, ousou — se sentir ofendida pelas falas do senador Omar Aziz e questionar a condução parcial dos trabalhos feita pelo presidente da sessão, senador Marcos Rogério, do PL de Rondônia.
Marina Silva, mulher, negra, ambientalista e com um histórico de luta reconhecido internacionalmente, ouviu de Marcos Rogério que precisava se "pôr no seu lugar". A frase, carregada de uma arrogância sexista, não pode ser normalizada. Ela escancara o incômodo que certos políticos têm com mulheres que não abaixam a cabeça, que não se curvam ao autoritarismo e que não aceitam o papel subalterno a que gostariam de relegá-las.
Ao dizer "Eu não sou uma mulher submissa", Marina Silva não apenas defendeu a própria dignidade, mas deu voz a milhares de brasileiras que, todos os dias, enfrentam esse tipo de violência simbólica — muitas vezes invisibilizada, mas presente nas falas, nos gestos e nas estruturas de poder.
O Senado Federal não pode ser palco de atitudes que envergonham a democracia. O contraditório é essencial, mas ele precisa ser construído com respeito. O que vimos foi um cerco articulado contra uma ministra de Estado, que buscava debater uma política pública fundamental para o país. O debate se perdeu porque alguns parlamentares preferiram disputar no grito, na grosseria e na tentativa de humilhação.
E aqui cabe um questionamento direto aos senadores envolvidos: qual é, afinal, o lugar de uma mulher na política para vocês? Porque se não for falando, questionando e exercendo plenamente sua função, é lugar nenhum.
A democracia se enfraquece quando o debate vira ofensa. E se ainda há quem pense que calar uma mulher é sinal de força, é bom lembrar: o tempo da submissão ficou para trás.
*Editorial do jornal Notícias da Manhã da rádio Espinharas FM de Patos 97.9 em 28 de maio de 2025.