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A Nova Lista de Schindler: Quando o STF Assina a Sentença e a Constituição Vira Papel de Bala

Na Alemanha de Hitler, bastava parecer diferente ou pensar demais para virar réu do sistema.

CR10
Por: CR10
04/06/2025 às 20h15 Atualizada em 05/06/2025 às 05h58
A Nova Lista de Schindler: Quando o STF Assina a Sentença e a Constituição Vira Papel de Bala
A história tem um talento invejável para repetir tragédias — só muda o figurino. Na década de 1940, um alemão espertalhão, beberrão e oportunista chamado Oskar Schindler usou sua ficha corrida nazista para salvar judeus da engrenagem assassina do Reich. Virou herói não por ser santo, mas por não ser completamente canalha. Escreveu uma lista que hoje emociona até os mais cínicos. Já em Brasília, num enredo contraditório, estão escrevendo listas que não salvam, mas sepultam. Não se vai mais para câmaras de gás, apenas para o calabouço da reputação e da liberdade — o que, cá entre nós, é uma versão gourmet do totalitarismo.
Na Alemanha de Hitler, bastava parecer diferente ou pensar demais para virar réu do sistema. No Brasil togado, basta vestir verde-amarelo, carregar uma Bíblia ou discordar do “narrador oficial” para ser promovido a inimigo do Estado. A diferença é só de maquiagem. A essência é a mesma: punir pelo que se representa, não pelo que se faz.
A Bíblia, aquela que outrora ungiu reis e alimentou mártires, virou hoje uma espécie de “arma branca ideológica”. A cena é quase cômica, não fosse trágica: um manifestante é condenado por carregar um versículo enquanto um juiz lava as mãos com alvejante constitucional. E que versículo, hein? Mateus 27:25 — aquele que, mal interpretado, serviu por séculos como combustível do antissemitismo. Agora serve para outra coisa: alimentar um novo tipo de cruzada, dessa vez contra quem ousa rezar fora da cartilha.
Pilatos lavou as mãos. Moraes lavou a Constituição. Ambos alegam estar apenas cumprindo o protocolo. Só que enquanto um cedeu à multidão, o outro parece tê-la dispensado: aqui, a turba é só um ruído inconveniente. Crucificam-se ideias, rasgam-se garantias, aplicam-se penas com o entusiasmo de quem acredita estar salvando a democracia… à força. Jesus foi trocado por Barrabás porque a plateia foi manipulada. Hoje, trocamos o bom senso pela liturgia do aplauso fácil. Quem questiona, vira “terrorista”. Quem repete, é canonizado.
E aí surge Luiz Fux, um ministro que ainda arrisca dizer o óbvio: que exagero também é injustiça. Mas pronto, virou cúmplice da desordem aos olhos dos sacerdotes da moral seletiva. Afinal, se você não concorda com a decapitação simbólica do oponente político, é porque quer o fim da civilização — ou, pior, do “regime democrático”, esse novo nome fantasia da censura com toga.
A Nova Lista de Schindler não livra ninguém. Ela prende — e ainda emoldura a sentença com a frase: “Por amor à democracia”. Uma ironia digna de Kafka¹. Porque já não se pune pelo crime, mas pela aura. Já não se investiga o ato, mas o “espírito da coisa”. E se a balança da justiça foi feita para pesar com equidade, hoje ela virou catapulta: joga uns para o estrelato e outros para o cadafalso — dependendo do que pensam, ou do que ousam dizer.
Pensar virou ato subversivo. Rir, uma heresia. Discordar, crime hediondo. A Constituição? Essa já pediu asilo em Genebra e está esperando carona num barco de refugiados jurídicos. O Brasil virou um filme de tribunal onde o júri já entra com o veredito pronto, o promotor é militante e o juiz é roteirista — tudo em nome da democracia, claro.
E a gente aqui, do lado de fora do plenário, comendo pipoca vencida e tentando entender se ainda somos espectadores ou já viramos os próximos da fila.
CR10 na área “BILANDO” a cidade.
Nota pé
¹ A expressão “uma ironia digna de Kafka” faz referência ao universo literário do escritor tcheco Franz Kafka, conhecido por retratar situações absurdas, opressoras e burocráticas nas quais o indivíduo é esmagado por sistemas legais ou institucionais que agem de forma arbitrária, impessoal e sem transparência. Em seus romances, como “O Processo”, os personagens são condenados sem saber a acusação, sendo vítimas de uma engrenagem jurídica que parodia a própria noção de justiça. Assim, a expressão aponta para a contradição de um sistema que, sob o pretexto de defender a ordem e a democracia, comete injustiças travestidas de legalidade.
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