A Constituição Federal do Brasil, em seu Art. 53, §2º, é cristalina:
“Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. […] Não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.”
Mas, em tempos de toga militante, a clareza da lei tornou-se obra artesanal — mais ornamento que limite. Um enfeite jurídico pendurado em discursos, útil para blindar aliados, jamais para proteger adversários. Àqueles, a imunidade; a estes, o peso seletivo da balança.
Carla Zambelli, deputada federal, tornou-se o alvo da vez. Fugiu? Talvez. Mas, diferentemente de tantos camaradas do Foro de São Paulo, não partiu com malas de propina nem buscou asilo para escapar de cortes internacionais. Corre, sim — da justiça que caça ideias divergentes, enquanto poupa delitos convenientes.
Enquanto isso, Lula, rábula-mor da República, desce do palanque e vai às trincheiras institucionais. Em pleno Congresso do PSB, no dia 1º de junho, solta a confissão:
“Precisamos fazer maioria no Senado, senão vão avacalhar o STF.”
O que transparece não é um projeto de estabilidade democrática, mas um temor visceral. Temer o quê? Perder a redoma que hoje protege quem detém o cetro? Assistir, impotente, à devolução do Supremo ao seu papel original — guardião da Constituição, não zelador de acordos de ocasião?
Lula, agora travestido de paladino da Justiça, distribui indulgências seletivas. Justiça para quem? Para os amigos que se empoleiram em seu galho político. Veja o caso que emergiu em abril e ainda reverbera nos bastidores diplomáticos: o Ministério das Relações Exteriores confirmou, em nota oficial no dia 16 daquele mês, a concessão de asilo diplomático à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia Alarcón, esposa do ex-presidente Ollanta Humala — ambos condenados por lavagem de dinheiro envolvendo empreiteiras brasileiras. Humala segue preso. Nadine, acompanhada do filho, desembarcou em solo brasileiro e foi agraciada com asilo em 15 de abril.
E Lula, entre um sorriso e outro, justificou a manobra com seu conhecido sentimentalismo seletivo: não queria que ela passasse “pelo que ele passou na Lava Jato”. Mas… o que ele passou? No Brasil, onde o Supremo reescreve sentenças ao sabor da política, Lula foi “descondenado” — não absolvido. Se o Peru operasse sob um STF militante, como o nosso, Nadine já estaria em campanha, não em exílio.
Por lá, contudo, a condenação foi calcada em provas. Aqui, narrativas valem mais que autos processuais. No Brasil, o passado ideológico serve como senha para se escapar do presente jurídico.
O resultado? Um Itamaraty rebaixado a balcão de negócios ideológicos. A diplomacia brasileira, transformada em despachante de fugitivos camaradas. Nadine soma-se a Rocío González, Jorge Glas Filho, e enquanto isso o ex-presidente Jorge Glas apodrece no cárcere do Equador. Aqui, porém, a imprensa granciana desempenha seu papel com esmero. Alardeia a suposta fuga desesperada de Zambelli como enredo de um golpe de extrema-direita, mas silencia ante a generosa concessão de asilo a mais um membro do clube latino-americano da impunidade.
“Neste Brasil de caboclo, de mãe preta e pai João”, quem dita o rumo da justiça não é a lei, mas a ideologia. O Supremo virou bunker. Lula, seu advogado honorário. A imprensa, sua assessoria oficiosa.
E a verdade? Esta se esconde entre espelhos.
“Não cometereis injustiça no juízo; não favorecereis o pobre, nem ao poderoso acarreis o direito; com justiça julgarás o teu próximo.” (Levítico 19:15)
Que Deus nos livre dos que invocam a lei — mas apenas quando a toga se ajusta ao figurino de seu partido. E que um dia a toga volte a ser justiça — não um truque de salão a serviço de um projeto de poder tão baixo quanto os saltos que hoje o sustentam.
CR10 na área “BILANDO” a cidade
Nota pé:
Imprensa granciana é uma expressão crítica derivada do pensador marxista Antonio Gramsci. Ela descreve veículos de comunicação que se comportam como instrumentos ideológicos da esquerda, atuando com viés militante, desprezo pela imparcialidade e paixão por narrativas seletivas. É o jornalismo que não informa: apenas performa.