O Senado aprovou o aumento no número de deputados federais no Brasil: de 513 para 531. Uma medida que, na prática, nada muda para a vida do cidadão comum - a não ser a conta a ser paga.
A justificativa oficial é técnica: adequar a representação proporcional dos estados ao crescimento populacional, com base no censo do IBGE. Mas a realidade por trás desse aumento é bastante óbvia. O que está em jogo não é a representatividade do povo, mas o fortalecimento da classe política. É mais espaço para partidos, mais cargos, mais verbas de gabinete, mais assessores, mais custos, e mais emendas.
E emendas, hoje, são sinônimo de poder. O Congresso brasileiro virou um balcão de negócios institucionalizado, onde parte da governabilidade se compra com repasses bilionários - muitas vezes sem qualquer transparência.
O que temos assistido é um Congresso que se utiliza da sua força não para legislar em benefício da população, mas para fazer chantagem política junto ao Executivo, como a derrubada pela Câmara dos deputados dos decretos que aumentavam IOF - Imposto sobre Operações Financeiras, de interesse do governo federal.
As benesses do poder continuam intactas: auxílio-moradia, cotas parlamentares, plano de saúde vitalício e férias remuneradas - tudo isso em um dos Legislativos mais caros do mundo.
Esse aumento no número de deputados é mais uma etapa nesse processo de ampliação de privilégios. Num país em que sobram gabinetes e faltam salas de aula, aumentar a estrutura do Legislativo é um escárnio.
Enquanto isso, pautas sociais seguem empilhadas nas gavetas, temas que parecem irrelevantes diante da urgência do Congresso em cuidar de si mesmo. A reforma tributária, por exemplo, segue travada em interesses cruzados.
O resultado é o descrédito. Pesquisa após pesquisa mostra: a maioria dos brasileiros não aprova o Congresso Nacional.
Aumentar o número de deputados agora é esticar a corda da polarização e da apatia política. É reforçar o abismo entre representantes e representados. É transformar o Congresso em um condomínio fechado.
Não precisamos de mais deputados. Precisamos de políticos melhores, mais éticos, mais comprometidos com o país - e menos com os próprios bolsos.
*Editorial do jornal Notícias da Manhã da rádio Espinharas FM de Patos 97.9 em 27 de junho de 2025