A reação veio rápida. Diante da enxurrada de críticas pela forma como conduziu a votação que derrubou o decreto presidencial sobre o IOF, o presidente da Câmara dos Deputados usou as redes sociais para se explicar. Disse que não traiu o governo. Alegou ter avisado que a matéria enfrentaria forte resistência. E lançou mão de uma metáfora: “Capitão que vê o barco indo em direção ao iceberg e não avisa, não é leal, é cúmplice.”
Palavras fortes. Mas é justamente a força dessa frase que levanta outras questões: a votação foi pautada às escusas, sem aviso formal ao Planalto, silenciosa, rápida – e devastadora – que mais pareceu emboscada do que conselho de "quem avisa amigo é".
O episódio escancara, mais uma vez, o distanciamento entre Executivo e Legislativo. A tal “governabilidade” parece cada vez mais frágil, refém de trocas, acordos de ocasião e disputas internas de poder. E Hugo Motta, que até outro dia não parecia ser uma ameaça para o governo, agora se vê no centro de uma crise política que pode ter desdobramentos profundos.
Não se trata apenas da derrubada de um decreto. Trata-se de chantagem institucionalizada. A Câmara, sob a nova presidência, dá sinais de que não pretende abrir mão de suas emendas impositivas – questionadas pelo Supremo quanto à transparência – mesmo que isso signifique enfrentar o Planalto.
E o governo? Tenta conter os danos. Tenta entender quem está com quem. E, principalmente, tenta não sangrar demais às vésperas de votações importantes – e sem perder de vista o caminho para o pleito de 2026, que aliás, já começou nos bastidores, embora todos jurem que não.
No fim das contas, o foco se desvia do que realmente importa – as reformas, os investimentos, as pautas sociais – para se concentrar em manobras, recados cifrados e disputas por espaço.
O que Hugo Motta não disse é que partiu dele a decisão de pautar o projeto de decreto legislativo que não precisava de validação pelo parlamento e também não explicou quanto a dúvida se o legislativo invadiu uma atribuição do governo Federal.
Hugo Motta falou. Mas talvez precise mais do que uma boa metáfora para convencer a população brasileira de que o gesto foi apenas um aviso – e não um movimento calculado.
*Editorial do jornal Notícias da Manhã da rádio Espinharas FM de Patos 97.9 em 1 de julho de 2025.