Um mês após deixar uma audiência no Senado em meio a uma discussão, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, voltou a protagonizar um embate com parlamentares da oposição nesta quarta-feira (2) em uma audiência na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. Marina chegou a rebater as acusações com passagens bíblicas, inclusive com um versículo citado com frequência pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em maio, a ministra optou por deixar uma audiência pública no Senado após o senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmar que ela “não merecia respeito”. Nesta tarde, Marina defendeu os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre a queda do desmatamento no governo Lula (PT).
"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Chegamos ao menor número de alerta de desmatamento do mês de junho. O desmatamento caiu 32% no país inteiro. Nós trazemos os dados, não para camuflar, mas para colocar a verdade", disse.
O deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES) disse que a ministra foi “adestrada” pela esquerda e apontou que ela tem dificuldade com o agronegócio, porque “nunca trabalhou”. Melo também acusou Marina de usar a mesma retórica das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e dos grupos terroristas Hamas e Hezbollah.
“A senhora tem dificuldades com o agronegócio porque a senhora nunca trabalhou, a senhora nunca produziu, não sabe o que é prosperidade construída pelo trabalho. Todo mundo sabe, o mundo sabe que a senhora tem um discurso alinhado com essas ONGs internacionais”, afirmou.
Em resposta, Marina disse ter feito “uma longa oração” pela manhã, antes de comparecer à comissão. “Pedi a Deus que me desse muita calma, muita tranquilidade, porque eu sabia que depois do que aconteceu no Senado as pessoas iam achar muito normal fazer o que está acontecendo aqui em um nível piorado, mas acho que Deus me ouviu, porque eu estou em paz”, destacou a ministra.
“Tem uma palavra que eu repito sempre, que aprendi com o apóstolo Paulo, que diz o seguinte: ‘É preferível sofrer a injustiça do que praticar uma injustiça’. Porque quando você pratica uma injustiça, pode ter certeza que um dia a reparação virá. Quando você é injustiçado, a justiça virá. Então isso é o que me conforta”, acrescentou. A ministra disse ter sido “terrivelmente agredida”.
O presidente do colegiado, Rodolfo Nogueira (PL-PE), questionou a validade das informações repassadas pela ministra durante a audiência. Marina apresentou dados do Ministério do Meio Ambiente sobre a relação entre períodos de seca e o avanço de incêndios florestais no Brasil e no mundo, em 2025. Já o deputado Zé Trovão (PL-SC) afirmou que Marina, segundo ele, seria “uma vergonha como ministra” e indagou se ela teria “falta de vontade de trabalhar”.
Marina ironizou deputado: “Deu tempo de pesquisar, hein?”
Durante a resposta, Marina criticou a “análise de discurso” feita por Melo, que a comparou a grupos terroristas, citando o psicanalista francês Jacques Lacan e o psicanalista argentino Ricardo Goldenberg. “[O Goldenberg] diz o seguinte: ‘Você não se revela naquilo que o outro diz de você. Você não se revela naquilo que diz de si mesmo. Você se revela quando se refere ao outro’. E Vossa Excelência se revelou”, disse.
Na réplica, Melo também citou Lacan e disse esperar que Marina “também o conheça”. A ministra rebateu: “Deu tempo de pesquisar, hein?”, arrancando risos de parte dos presentes na sessão. Em seguida, o deputado a chamou de “mal-educada”.